Carta aos filhos


Que herança para o 12 de outubro

O que você gostaria de falar aos seus filhos no seu último sopro de vida, naquele último instante, quando o palco se esvazia e as luzes se apagam. Qual a imagem que você escolheria que eles guardassem de você. Como foi a convivência entre vocês, quantos momentos compartilhados e com que qualidade eles foram aproveitados.

Podemos explicar muito de poucas coisas, a simples presença de alguém pode falar muito, mesmo que ele não pronuncie nada. Pequenos gestos tem muito valor, quando mais nada vale a pena. O ser humano pode lutar tanto, enriquecer tanto que mesmo assim, não poderá comprar a paz de espírito como uma mercadoria.

Como disse Rudyard Kipling em seu Poema “Se“:

“[…] dar segundo a segundo, ao minuto fatal, todo valor e brilho […]”

O maior valor para o homem, no seu final, pode ser aquilo de que ele mais se queixou em sua vida, as relações com as outras pessoas, aquele embate diário, aquele conflito de vontades e interesses. Pais, amigos, familiares e os filhos, todos a sua volta, pedindo algo, reclamando e te sacudindo como um boneco de piñata, prestes a estourar em um monte de presentes e mimos.

Como você lidou com isso pode representar tudo agora, quantas vezes desligou o telefone e foi trocar a fralda de algum chorão, apesar de fazer hora extra e estar morto de cansado, você ficou algum tempo, sentado na cama, ao lado de alguém que estava com febre e esperou pacientemente ela dormir.

Pequenos rituais, como comprar um pastel de feira ou um chocolate na padaria, acompanhado desses seus adoráveis pestinhas que aguardavam ansiosos a sua presença de forma quase religiosa ou um compromisso intransferível. Por essas e outras, por algum tempo, você se tornou uma pessoa especial. Pelo menos, para essas pequenas pessoas que você cativou com tanto cuidado e carinho.

Apesar de a noite, você se lamentar escondido, em algum canto escuro, de não poder ter dado muito mais para eles, ou dos sonhos que não realizou, ou dos bens que não adquiriu ou dos negócios que não deram certo. Houve sempre a presença de alguém que retribuiu com um pequeno e sincero sorriso, o simples fato de você ter chegado em casa vivo.

Depois de tudo isso, nem mais uma palavra significaria tanto para você do que a presença deles, ali, naquele instante. Pois tudo o que foi feito, foi de valor, pelo menos para alguém que significou muito para você, desde aquele momento em que, de alguma forma mágica, uma nova vida apareceu no mundo e na sua vida!

6 Comentários

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  2. Lindo o seu conto, tem um toque humano, de sensibilidade muito especial.

    • Grato por suas gentis palavras! Este tenho por especial, pois foi por sérias razões e delicadas emoções que eu o escrevi.


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