As pessoas costumam reclamar da política, mas na verdade, reclamam das consequências dela, do fisiologismo e da sua estrutura. E isso é apenas o que vemos, o resultado que percebemos, não é a política em si, e sim o modelo político que herdamos e acatamos como correto, tanto a população como os próprios políticos que nele vivem são marionetes de um sistema que foi elaborado como uma colcha de retalho. Costurado pedaço por pedaço, através de nossa história.
Ao ser descoberto o Brasil, necessitava de uma administração local. Sua definição e seus objetivos eram traçados por uma Metrópole distante, ou seja, o Rei de Portugal e a fidelidade com esse reinado, apesar de bem fiscalizada, nem sempre era a melhor qualidade em nossos representantes locais que descobriram o que poderia ser o “embrião” do nosso “jeitinho brasileiro” e da “Lei de Gerson” em “levar vantagem em tudo”. Com isso, duas bases de nosso modelo estão lançadas na administração pública brasileira, os cabides de emprego e a diferença entre povo e governo, pois o Brasil não era administrado pelos interesses de quem aqui vivia. Pois a população estava a merce de um governo “estrangeiro”, os impostos iam para outro país e recebíamos muitas exigências em troca. Aqui inicia, no berço, o nosso rancor com a política.
Na vinda da família real portuguesa, o Brasil tem uma pequena melhoria no seu status, mas sofre com a aparente diferença entre uma corte 100% europeia e uma população “mestiça” em seu dia a dia. A integração forçada dos índios e dos africanos dá ao Brasil não apenas um “rosto” diferente, mas é um país diferente daquele com que o governo real está acostumado. As leis impostas de cima para baixo revoltam muito mais do que ajudam. O povo acostumado ao chicote se choca com o banho de cultura. Não houve uma preparação adequada, da mesma maneira que Escolas eram raras nos diversos cantos desse país.
O pragmatismo é tido como “modo de vida”, as pessoas alcançam resultados em suas vidas de acordo com o trabalho e do que aprendem com outras pessoas, dando valor aos resultados financeiros e aos bens acumulados. O que seria de um lado, prova de adaptação ao ambiente hostil e competitivo. Aqui, muitos historiadores concordam, o Brasil seria bem melhor hoje, se tivesse seguido um modelo de ensino como os dos norte-americanos.
Para um exemplo, o primeiro bem industrializado na Província de São Paulo foi a goiabada. Produto este que não reinou muito tempo, devido as falsificações que produtores locais começaram a produzir e não foram bem recebidos na Europa. Estava lançada a indústria da “pirataria”, antes do Paraguai ou da China.
Outra base do nosso sistema foi concebido durante a divisão das Capitanias Hereditárias foi o de grandes “empresas” que são administradas de forma centralizada, isso mesmo, a monocultura da cana-de-açúcar ao dar certo aqui, mostra a Portugal que, grandes extensões de terras, produção em larga escala e poder centralizado, auxiliam na fiscalização e controle, além de proporcionar altos lucros. Nessa época são nomeados os primeiros administradores locais que são brasileiros natos. Esses administradores locais são o rascunho de nossa primeira elite, que formam uma ponte entre a Colônia e sua Metrópole.
A cultura de nossa elite é basicamente “religiosa” devido a formação que recebiam dos clérigos que aqui vinham com a missão de catequizar e como eram letrados, acabavam se tornando responsáveis pela criação dos primeiros centros de ensino, basta lembrar do Padre José de Anchieta e o Colégio que fundou em São Paulo. Outro detalhe, como o Padre, em muitos vilarejos, estava entre os mais influentes, a vida política e religiosa muita vezes se confundia, como no caso do Padre Cícero Romão Batista que possuía seu próprio “curral eleitoral”. Termo esse, utilizado para designar pessoas que votavam conforme a orientação de uma personalidade que fosse destaque em sua comunidade.
Nessa parte, erguemos mais uma “coluna” para a base de nossa atual política, a “religião” que continua influenciando nos rumos da política e em muitas leis aqui promulgadas. Por exemplo, temos no congresso, uma divisão informal, pois não se trata de um partido político que se denomina “bancada evangélica” que é formada por membros que tinham como apelo eleitoral “combater” a hegemonia católica no governo. Isso parece uma ironia, de ambas as partes, pois somos um país tido como “laico”, sem predominância religiosa e desde o império não possuímos mais uma religião oficial.
Com o fim do império e a proclamação da República, as bases criadas são utilizadas para estruturar o novo governo. Uma elite de empresários monopolistas, que não acreditam em concorrência, uma máquina burocrática com a finalidade de perpetuar as mesma figuras no poder. Aqui está o fisiologismo, o voto de “cabresto” e a dança das cadeiras proporcionada pela política do “café com leite”. Alternando a posse do governo federal entre políticos de Minas Gerais e São Paulo.
As rixas políticas ocorrem dentro de gabinetes, o povo é um mero espectador e a opinião pública é deliberadamente conduzida. A entrada em cena do gaúcho Getúlio Vargas não é uma mudança, como muitos supõe, mas a introdução de mais alguns elementos para a formação da atual política brasileira. O modelo de governo de Vargas é “paternalista” e as leis que ele promulga, visam colocar os “trabalhadores” embaixo de suas asas. Vale lembrar que nessa época, a maioria do eleitorado era masculino e que quem possuía título eleitoral, deveria ter no mínimo, umas poucas posses e um pouco de instrução para tirar seus documentos. Resultado, após uma primeira entrada como interventor, na segunda vez, Getúlio é eleito de forma esmagadora.
Apesar de dúbia, a política externa brasileira pende para o lado dos Americanos, mesmo com o bom relacionamento com a Alemanha e o Terceiro Reich. A dúvida foi descartada no episódio do naufrágio de um navio brasileiro em nossa costa, supostamente afundado por uma embarcação alemã. Como prêmio, o Brasil recebe os “espólios” dos Estados Unidos da América, como a nossa Companhia Siderúrgica Nacional e a criação da indústria automotiva. Companhias estrangeiras que produzem carros aqui é chamam esses de “nacionais”.
O período do mineiro, Dr. Juscelino Kubitschek com o seu famoso lema, “cinquenta anos em cinco”, impulsiona a indústria nacional, afinal até a época de Getúlio, eram totalmente voltados a agricultura e São Paulo era uma ilha de fumaça nesse imenso mar verde. Abre também as portas para mais empresas estrangeiras chegarem aqui e venderem seu Know-how.
No final do Império, companhias britânicas vinham aqui, construíam pontes, ferrovias, o elevador Lacerda e algumas outras obras de monta. Costumavam enviar junto dos maquinários, funcionários capacitados para acompanhar e conduzir as obras, como engenheiros e mestres de obras. Estes por sua vez, ficavam aqui, apenas pelo tempo necessário para o termino do serviço e retornavam a sua terra natal. Apesar de não se apetecerem em se misturar a população local, deixaram algumas influências, como o “forro” e o futebol. Nesse período, podemos dizer que não havia transferência de know-how, pois os técnicos ingleses não repassavam seus conhecimentos para empregados locais, apenas os acompanhavam, ensinando para cada um, apenas a sua parte e não o processo de forma geral. Muitas vezes, quando voltavam a Inglaterra, as máquinas aqui paravam por falta de pessoas habilitadas em fazer sua manutenção.
Nos anos 60, isso foi diferente, os estrangeiros descobriram que vender o know-how e depois cobrar pelos direitos de uso, são mais lucrativos e possuem menos custos. A venda de equipamentos sucateados como uma usina nuclear são uma constante. Esse modelo econômico, importado, anacrônico e dependente se reflete na política, mais propriamente no golpe militar de 64. As características dessa época são a inflação, o FMI e as medidas econômicas do governo conhecidas como “pacotes econômicos”.
O país fica sob um regime militar, uma ditadura de “fardas”, mas notem que o sistema de governo não muda, as características continuam as mesmas. Burocracia, fisiologismo e uma máquina governamental inchada que precisa ser alimentada com muitos impostos. A ditadura se encerra, mas o seu legado continua.
O governo faz propaganda de concursos para cargos públicos como se fossem um leilão. Os altos salários e o sonho de um emprego no qual você não pode ser despedido é a meta para muitos. Uma conjuntura que incentiva a mediocridade junto a falta de ferramentas de controle para a população tornam o ambiente um terreno fértil para subornos, escândalos e propinas. Uma novela que não cansamos de ver.
Existe uma máxima que aqui é usual, “uma democracia só funciona se for comandada por uma ditadura”. Não importa a sigla que use, se você se torna governo, você é governo. A máquina não muda, o político, como profissional é apenas uma ferramenta, uma engrenagem que precisa fazer o que é necessário para o país não parar. Dessa forma, o governo Lula herdou, os latifúndios do Brasil colônia, a burocracia do Império, a elite do ciclo do café, o sucateamento industrial de Kubitschek e o paternalismo de Vargas. Não é sua simpatia por essa ou aquela IDEOLOGIA que mudará a política brasileira, é preciso uma reforma no nosso sistema de governo de modo geral. Como no caso dos votos, além de sermos obrigados a votar, quando votamos em branco, como forma de protesto, esses votos servem para desempatar o pleito. Isso é induzir, teria que ter um botão de nulo ou digitarmos o nome do candidato. Para que os políticos descobrirem, de verdade, em quem realmente queremos votar.
setembro 11, 2012
Categorias: Geopolítica, Politica . Tags:cabide de empregos, chicote, concurso público, Eleições, jeitinho brasileiro, máquina administrativa, pleito, políticos, pragmatismo . Autor: angelinoneto . Comments: Deixe um comentário