Quais os fatores para essas mudanças
Na filologia, se diz que a língua é como um ser vivo, nasce, cresce, se reproduz e morre! Essa visão darwiniana da língua mostra de forma geral como podem haver mudanças e que estas causaram consequências.
“Analogamente, como todo ato de fala é recombinação de elementos e modelos preestabelecidos na língua, que o falante internalizou (léxico, construções sintáticas, pronúncia dos fonemas etc.), cada novo ato de fala é uma tentativa de reproduzir a expressão e o conteúdo de mensagens anteriores, tentativa que produz, porém, uma cópia “falha”, isto é, diferente, ainda que mínima e imperceptivelmente, do original, tanto no significado quanto na forma fônica dos elementos lingüísticos.”
Esta premissa acima apresentada em “Darwinismo da linguagem” de Aldo Bizzochi mostra a alteração como uma “falha”, ou seja, possui alguma diferença do significado original.
No caso de alterações que adicionam formas, significados e palavras, como os regionalísmos, o “estrangeirismo” (palavras de outros idiomas), e agora a internet tem sido o mais novo elemento transformador do idioma. Vou tomar a liberdade de utilizar como exemplo matéria apresentada no Blog Mundo Texto de autoria da Professora Carla Edila. Nesse caso, a matéria é sobre alterações pronominais e aumento da marcação prefixal no português brasileiro. Matéria esta publicada originalmente pelo Professor Ataliba de Castilho na aula inaugural em 10/08/2013 do evento Letras Debate: Linguagem e Ensino, promovido pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Alguns exemplos expostos:
1) ozóme, essas coisarada bonito (Amaral 1977: 48) = plural nominal ou de substantivos
2) vofalá = tempo futuro
3) popará, quepará? = modo verbal
4) tafalano = aspecto[1] imperfectivo
5) tafalado = aspecto perfectivo
6) Disque vai chover = modalização sentencial asseverativa (gramaticalização[2] de verbos afirmativos)
7) Áxki vai chover = modalização sentencial dubitativa (gramaticalização de verbos evidenciais).
Para maiores detalhes acesse o link: http://mundotexto.wordpress.com/2013/09/08/como-e-ensinar-portugues-brasileiro-na-era-da-informacao/
Esses “neologismos” defendidos pelos professores mostram como usos e costumes adquiridos no uso da internet e dos dispositivos móveis de comunicação, como SMS, chats, e-mails e MSN (agora Skype) podem alterar a forma de uso da língua. Nesses casos se percebe que as palavras assumem novos significados, contudo as palavras originais continuam as mesmas, e o interlocutor se utilizar dos padrões da língua será perfeitamente entendido por qualquer receptor. Nesse caso, eu concordo com a autora, existe uma evolução da língua que pode nem sempre ser aceito por todos, mas que é perfeitamente utilizável.
Quanto as palavras novas, dependendo de sua origem, pode haver uma espécie de adaptação, de acordo com a sua origem, seja uma tradução ou alteração de uso. Esse caso é que mais chama a atenção, no qual, as palavras usadas em “jargão”, ou seja, no vocabulário próprio de profissionais ou de áreas distintas, como a medicina, o direito, a administração ou até mesmo pelos técnicos de informática mudam.
Nessa situação temos por exemplo a matéria posterior da mesma autora, Jornal Estado de Minas – Embargos infrigentes está na boca do povo. Na qual, demonstra expressões que caem no uso popular e que se originam de um vocabulário técnico, os quais são largamente expostos pela mídia, fazendo serem amplamente conhecidos mas não tão bem utilizados.
O que realmente significam:
Embargos infrigentes: Segundo os magistérios: imaginemos uma ação dentro de uma ação. Os exemplos virão sempre precedidos da expressão embargos – embargos do devedor, embargos de terceiro, embargos à arrematação, à adjudicação, com o significado de um instrumento dúplice, em que se exerce o poder de obstacular, ou impedir a produção do efeito específico de um ato judicial. Ataque ante a parte que dele se beneficiaria e defesa ante o ato, ao mesmo tempo. Assim também ocorre com os recursos que se inserem em outro recurso, ou numa ação de impugnação, com o mesmo caráter de estorvo, ou impedimento: os embargos infringentes, os embargos de declaração, os embargos de divergência e os embargos infringentes do julgado. São materialmente plurais, porque exprimem um agir para postular a revisão de um ato, ao mesmo tempo em que configuram um óbice à sua eficácia.
Os novos usos para essa expressão chegam até a medicina, como no caso de dois médicos que conversam:
– O cliente não está reagindo bem aos medicamentos!
– Vamos tentar os “embargos infrigentes”! Se não der certo, seja o que Deus quizer!
Ou seja, muda totalmente o contexto original. Podemos concluir através disso que a expressão ou a palavra têm o seu uso e significado alterados e o locutor pode até usar na forma original, mas não será entendido mais da mesma forma pelo receptor. Houve uma alteração irreparável no contexto, a não ser que todos façamos direito a expressão jamais retornará a ser o que era.
O acréscimo de formas de comunicação, novas palavras e expressões são positivas para a língua e melhoram a comunicação, mas o decréscimo de significados e o desuso podem ser o inverso. Como é lamentável a leitura de um texto que dele nada se entende, como por exemplo, dar a um jovem o Hino Nacional ou a carta de D. Pedro I a seu filho D. Pedro II, no momento de sua partida a Portugal e nesse momento, verificarmos o total embaraço do jovem com palavras que deveria, ao menos, ter uma leve noção.
Uma palavra que não representa uma idéia é uma coisa morta, da mesma forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma sombra. Vygotsky
setembro 27, 2013
Categorias: Comunicação, Geopolítica, Sociais, Tecnologia . Tags:atualização, Comunicação, costumes, filologia, linguística, palavras, professores, usos . Autor: angelinoneto . Comments: 3 Comentários