Pelo “bom” Português

Um estudo do Preconceito Linguístico

Estou lendo ultimamente diversos textos sobre o famoso “preconceito linguístico”, o que inicialmente levanta diversas suspeitas. A primeira seria a forma com que os textos são escritos, todos eles respeitando as norma cultas da língua, o que sugere um contra-senso, pois defendem um uso diferente, os “neologismos” e os “regionalismos”, mas eles próprios não fazem uso disso.

No caso de se expressar pela forma que defendem não permitiria que os outros, ou seja, a grande maioria, entendesse suas palavras. Outra coisa, se esforçam em distinguir quem fala por “regionalismos” de quem fala através da norma culta; ou eu sou um extraterrestre ou eu sei falar das duas maneiras, o fato de ter aprendido a forma culta na Escola, não apagou meus traços nativos, como eles insistem em expor.

Fatos incontornáveis

O uso de expressões de impacto não melhoram um texto, apenas o faz parecer um “discurso político”, nesse caso, tendencioso e cheio de demagogias. Mostra apenas para que serve, propaganda ideológica.

Não adianta “colocar a carroça na frente dos bois”, a lógica é feita por premissas e nesse caso, conhecidas. Quando dizemos que quem se utiliza de uma linguagem “regionalista” tem dificuldade em abstrair não podemos generalizar. Apenas por uma questão de “comodismo” a expressão é usada dessa forma. Nem todos, que falam através de “regionalismo” conhecem a forma culta e o inverso também é verdadeiro e isso significa que podemos abstrair usando outras formas além da culta mas para isso, devemos ao menos ter o conhecimento (know-how) para fazé-lo de forma apropriada.

Um exemplo de “regionalismo” com abstração é a obra “Grande Sertões: Veredas” de Guimarães Rosa, o autor usa um clima psicológico bastante tenso sobre o personagem principal, apesar de usar e abusar dos “regionalismos” e dos “neologismos” mas nem todos possuem o conhecimento da língua para realizar tal tarefa.

Outro ponto bastante discutido é sobre as línguas primitivas e suas deficiências, nesse caso, peço que leiam “A visão dos vencidos”, de Miguel León-Portilla, nesta obra o autor narra a conquista da América sobre o ponto de vista dos conquistados, nesse caso, os Astecas que falavam o Nahuatl, idioma esse não tão primitivo quanto o de outras tribos ameríndias como os nossos índios, apesar disso, mostra bem as dificuldades deles de expor em palavras o que significou o terror de serem conquistados pelo “homem branco”. As situações eram retratadas de forma mística e cheias de superstições, como os espanhois que foram confundidos com deuses que vinham para os ajudar e depois os mataram, roubaram e escravizaram.

Quanto ao domínio da linguagem e em qual idade isso se faz, disseram até que com 4 anos já existe esse domínio, pediria então que dessem uma olhada nas obras de Piaget e Vigotski, autores que trabalharam com a evolução cognitiva das crianças e podem esclarecer tais duvidas. No caso é bom ressaltar as diferenças entre a linguagem falada e escrita, como aponta Vigotski:

“A escrita é uma função específica de linguagem, que difere da fala não menos como a linguagem interior difere da linguagem exterior pela estrutura e pelo modo de funcionamento a qual requer pra seu transcurso pelo menos um desenvolvimento mínimo de um alto grau de abstração, não usa palavras, mas sim representação das palavras pela linguagem de pensamento e isto se constitui em uma de suas maiores dificuldades,”

O real conhecimento da língua somente se dá com a apresentação dos métodos de aprendizado e da devida condução de um professor, como ele demonstra abaixo:

“É no fluir do aspecto processual, do metodológico, que as negociações ativas de significados encontrarão espaço para o desenvolvimento das especializações funcionais mediadas pelas ferramentas culturais.”

Ou seja, falar por falar, ainda não pode ser considerado como uma grande atividade cognitiva, é apenas uma imitação, uma forma encontrada pelo método de eliminação, certo ou errado. A criança ouve e imita, ser der certo, imita de novo. Tais métodos podem ser eficientes para um nariz escorrendo, um bumbum sujo ou quando se está com fome, mas para imaginar uma “Teoria da Relatividade” está muito longe.

Digno de nota, o fato da criança enquanto no ventre da mãe aprender o “sotaque” por causa da pronuncia dela mostra que o “regionalismo” será mantido. Dessa forma, independe das interações futuras e da eduacação que receberá. Isso já é provado cientificamente.

As redundâncias

Um trecho que me chamou a atenção sobre Preconceito linguístico é o que fala sobre “línguas primitivas” de Sírio Possenti, aqui reproduzimos apenas uma pequena parte:

“…o mesmo dialeto que é considerado errado ou precário por eliminar redundâncias também é considerado errado ou precário quando introduz redundâncias como ‘sair para fora’ ou ‘entrar para dentro’, ‘subir para cima’ e ‘descer para baixo’; são, de novo, construções análogas às do inglês, que ninguém estranha ou critica; …”

Nessas circunstâncias teriamos apenas que analisar se o idioma propõe soluções para a redundância, ou seja, se existem “ferramentas linguísticas” para substituir o termo em questão. No caso de português, merece apanhar com um “dicionário” quem usa redundâncias sabendo que a língua é tão rica em figuras de linguagens.

Outros idiomas menores

No caso do inglês que é considerado um idioma com ausência de flexões, um vocabulário menor e não tantos recursos linguísticos, não se preocupem! Embora o pinto não mame, se cria com farelo!  Ou seja, para tudo existe solução, basta lembrar que nas faculdades (High School) de países de língua inglesa nas materias mais avançadas são utilizados outros idiomas para suprir essas “carências” como o Latim e o Grego.

Eu fico com Fernando Pessoa, nosso poeta maior, “quero ser e estar!” o verbo “to be” não me satisfaz, a não ser que fosse “Hamlet”…

Se querem conhecer um idioma com situação semelhante a do Português, basta conhecer a atual situação do Árabe, idioma esse falado em diversos países na África e na Ásia, com culturas e religiões bastante distintas e consequentemente formas diferentes de se pronunciar e de se usar o idioma. Mesmo assim, existe um consenso que a língua escrita, livros, revistas e jornais são escritos pelo idioma oficial.  Na televisão existem algumas variantes mas os jornais televisivos são baseados no “Árabe Moderno” que constitui esse idioma oficial, o mesmo é também ensinado nas escolas (madrassa) e Universidades. O interessante aqui é que as variantes e dialétos não costumam se escrever, apenas falar (vernáculo) apesar de tantos conflitos, ficou convencionado que a escrita se faz pela língua oficial. Analogicamente seria como se o Chico Bento fosse escrever uma carta e para isso usasse o padrão culto do português, em vez do seu “linguajar” conhecido.

Diversos outros idiomas possuem  situações semelhantes ou até piores, como o Italiano com nove dialetos oficiais ou o Espanhol. Dentro da Espanha existem o Catalão (Catalunha) e o Euskara (país Basco), os quais lutam para serem reconhecidos e fazem parte da luta pela Independência dessas duas importantes regiões,  que hoje já estão autônomas. Utilizei a expressão “piores” devido ao tamanho dos países em questão: a Itália é um pouco maior que o Rio Grande do Sul e a Espanha caberia tranquilamente dentro da Bahia, por isso afirmo que os nosso “regionalismos” são até bem definidos e poucos se levarmos em conta a nossa grande extensão territorial.

O Brasil hoje

Um aviso, o Brasil hoje não é nem semelhante ao panorama da Rússia no ínício do século XX, antes da revolução, no qual havia uma elite Burguesa e Aristocrática que costuma falar francês apenas para se distinguir do resto da população. No Brasil, a elite fala um português tão ruim tanto quanto o resto da população, se torna um pedantismo querer cobrar dos outros aquilo que você mesmo não faz. Basta verificar as “redes sociais” e as colunas de “fofocas” para se deparar com as “pérolas” utilizadas pelos nossos governantes, artistas, atletas e empresários.

Não cabe aqui se falar em “preconceito linguístico” apenas para induzir uma luta de classes, um modo perverso de difundir teorias marxistas e ideologia barata. Os ojetivos de ideias como abolir os “erros de português” e de que o padrão da língua é feito através de uma “imposição” é apenas o de criar um exército de “analfabetos funcionais”, como foi divulgado recentemente através de pesquisas que mostram o aumento do analfabetismo no Brasil. Pessoas fáceis de se conduzir e que trocam votos pelo paternalismo governamental.

Qual a finalidade do Padrão Culto da Língua

O Padrão Culto da Língua é um eixo central que faz a ligação de todos os outros padrões, independente da localização e do tempo, ou seja é uma importante ferramenta geopolítica e histórica. As pessoas se conectam mais facilmente ao terem esse conhecimento e aquilo que é produzido, não importa a área, pode ser democraticamente distribuido. Ao eliminar a padronização, não existiria a uniformidade que dá ao idioma o aporte de ser único.  O ensino da norma culta não é uma imposição e sim, uma necessidade, não importa a área que sigam os alunos, o uso será impreterível e ficará arraigado no interior de cada um. Você pode enviar um SMS sem acentos ou “ç” mas saberá usar muito bem os recursos da língua quando for necessário. Num TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) por exemplo.

Egrégio Professor

Vi em um artigo, uma breve citação ao grande Professor Pasquale Cipro Neto, o qual tive o prazer e a honra de ser seu aluno. Não acredito que o mesmo tenha simpatia por tais ideias pois me lembro muito bem de suas aulas e da história que ele costumava contar. Professor Pasquale é descendente de italianos e quando viajava em passeio para a casa de seus parentes na “Bella Italia”, costumava ser censurado pelos seus parentes. Fato este que o indignava, pois eles cobravam que ele falasse corretamente o “italiano”, mas ele é brasileiro e sobretudo professor de Português e encerrava dizendo, “como gostaria de ver a nós, brasileiros, defendermos com a mesma paixão o nosso idioma, como os italianos defendem o deles”.

Aos estudiosos

Meus mais sinceros votos de apreço e simpatia por aqueles que responsavelmente estudam o nosso idioma, Pesquisadores e Professores. Quero pedir desculpas pelo modo tempestuoso de minhas palavras mas o tempo pede medidas extremas. O estudo da língua se faz necessário e é importante, as mudanças sempre ocorreram e sempre irão ocorrer, contudo não existe uma bola de cristal para conhecer seus efeitos:

1- A inovação será aceita pela maioria;

2- A inovação irá substituir algum padrão anterior;

3- Isso será permanente ou apenas um mero modismo.

A história está repleta de casos que demonstram isso, casos que fortuitamente mudaram o panorama de algum idioma, no Egito Antigo, a escrita Hierática deu início ao fim dos hieroglifos, no Japão, as escritas Hiragana e Takatana não conseguiram substituir o complexo Kanjin e hoje existem em harmonia. Digo isso, pois existem pessoas que acham que a escrita abreviada do SMS e do MSN podem alterar a forma de escrevermos o português futuramente. Será? Quem pode afirmar isso concretamente? Quem viver, verá!

Nunca houve um período tão bom para a Linguística, a Internet integra de forma instantanea os mais longínquos pontos, os materiais e os textos abundam pelas redes, quem quer aprender, basta pesquisar. Apenas um aviso de cautela! Como dizem: “se fosse para levar a sério tudo o que “curtem” nas redes sociais, nós todos seriamos bons, bonitos e … adorariamos gatos!!!

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”  Voltaire

A evolução e a língua

Os processos de evolução e involução da espécie

Algumas teorias modernas falam a respeito da involução da capacidade cerebral humana,

“O desenvolvimento de nossas habilidades intelectuais e a otimização de milhares de genes de inteligência provavelmente ocorreram em grupos de pessoas dispersos antes de nossos ancestrais emergirem da África“, afirma Gerald Crabtree, autor do estudo publicado no jornal Trends in Genetics. Nesse ambiente, a inteligência era crítica para a sobrevivência, e havia provavelmente uma pressão seletiva nos genes que auxiliam no desenvolvimento intelectual, chegando ao ponto máximo da inteligência.

Porém, segundo pesquisadores, foi a partir daí que começamos a ir “ladeira abaixo”. Com o desenvolvimento da agricultura, veio a urbanização, que pode ter enfraquecido o poder de seleção de semear mutações levando a desabilidades intelectuais.

O estudo de Crabtree leva em conta apenas os genes necessários para a manutenção de nossas capacidades e prevê que em mais duas grandes mutações, estaríamos em risco de perdermos nossas capacidades emocionais e cognitivas.

Aprendendo outro idioma

Outro estudo, este da Suécia, mostra que o aprendizado de um outro idioma aumenta o tamanho de certas áreas do cérebro. Isto é diferente do que ocorre com quem estuda muito mas não outra língua. O estudo feito pelas faculdade de Lund e Umea e das Forças Armadas analisou jovens recrutas e universitários. Eles tinham que aprender uma nova língua – as opções iam de árabe a russo – em um espaço de 13 meses. Eles estudavam da manhã à noite e até nos finais de semana para conseguir fluência em tempo.

Outro grupo, dessa vez estudantes de ciência da Universidade Umea, também estudou com afinco, mas não línguas estrangeiras. Eles tiveram os cérebros escaneados antes do início do experimento e após três meses. Os primeiros resultados indicam que o segundo grupo não teve alterações significativas no tamanho do cérebro. Já o primeiro teve aumento do hipocampo (ligado à memória, ao aprendizado e à orientação espacial) e outras três áreas no córtex cerebral.

“Ficamos surpresos ao ver diferentes áreas do cérebro desenvolvidas em diferentes graus dependendo do quão bem os estudantes se saíram e quanto esforço fizeram durante o curso”, diz Johan Martensson, pesquisador de Lund.

Períodos de grande stress

Nesses estudos estão faltando os resultados de períodos de grande stress, como em guerras, quando consideramos haver grandes progressos em diversas áreas do conhecimento humano. O primeiro estudo, acima, poderia ser essa indicação, a época de que fala, teria uma grande pressão ambiental para conseguirmos alimentos e de forma constante. Fator esse resolvido, o cérebro se acomoda.

Estudos recentes, teriam o mesmo resultado. As pessoas que utilizariam a Internet, estariam se tornando menos atentas e mais preguiçosas devido a facilidade das informações recebidas, a facilidade de se comunicar e aos textos resumidos.

A involução da linguagem

Uma forma de demonstrar como o cérebro se acomoda seria a involução da linguagem, como no caso dos Hieroglifos egípcios que inicialmente eram mais complexos e coloridos, foram simplificando e se tornaram bem simples com a escritas hierática.

Escrita pictográfica (hiergriflo)

HieróglifosEscrita Hierática:

Hierática

Diversos idiomas têm tido evolução diferente, como no caso do Árabe, em que a língua é dividida entre um padrão culto e diversos dialetos regionais. O mais peculiar dessa divisão é que os padrões locais não conseguem corresponder ao padrão escrito, ou seja, aquilo que eles falam, literalmente, não se escreve. O padrão culto do árabe é utilizado principalmente em jornais, televisão e em livros e faz parte do ensino escolar.

 

árabe
As línguas e a Internet

As atuais tecnologias se baseiam em programas de computador (software), que só foram possíveis com um idioma bastante simples, o inglês, que por não possuir assentos e divisão de gêneros em muitas palavras, se tornou propício para sequências de comandos de uma máquina.

Exemplo de linguagem basic:

basic-1

Os idiomas complexos como o Português ou Francês não conseguem ser bem utilizados com a informática e no caso da Internet, isto ficou mais visível. Os jovens que crescem utilizando sistemas de comunicação como o MSN tendem a perder as noções do idioma. Muitas abreviaturas e palavras escritas apenas pela fonética, parecem ser uma nova língua. Normalmente, esses jovens tem diminuída a sua capacidade de elaborar narrativas e de utilizar as normas cultas da língua, como a ortografia e a gramática.

Conversa na Internet

Conclusão:

A involução da língua seria uma forma de demonstrar a acomodação do cérebro dentro de um sistema de aparente segurança e tranquilidade. A preguiça e a desatenção seriam uma forma de economizar energia, como se o sistema entrasse em um estado de inércia. Situações de perigo e stress reativariam o sistema para a procura de soluções e um estado de alerta que causaria novas ligações entre neurônios e um aumento da capacidade cognitiva.

Traduções, quais as regras???

Este é um assunto sempre OUVIDO, mas nunca “discutido”.

Quem é cinéfilo e apegado a detalhes como eu, que tenho um leve Transtorno Obssessivo Compulsivo, já percebeu algumas nuances, como a tradução de nomes e de frases de efeito como expressões e ditados populares. O rei da Inglaterra, Henrique VIII já foi chamado pelo nome original em Inglês, como o do primeiro presidente dos E.U.A. que de  “Jorge” Washington (tradução), foi utilizado o original  “George” Washington. Qual a regra para isso?

Isto parece um assunto sem a menor relevância, mas se estudado pela geopeolítica vemos que se trata da supremacia de um idioma sobre os outro. Como no caso de CSI Miami, onde o chefe de Investigações se chama Horatio, pronuncia-se “Ooráichio”, mas que no capítulo de estreia se apresentou a pequena menina como Horácio e disse que seu nome era feio. Feio porque? Foi pronunciado em “Português” e não em “inglês”? Nos capítulos seguintes voltou a pronuncia do original. Ninguém se incomoda ao ouvir em um filme “todo” dublado, palavras que não se traduzem, como os nomes?

Fato muito visto hoje em dia, são as mães que recebem da mídia essas maravilhosas informações e acabam batizando seus “pimpolhos” de Maicol, Jequisom, Woshinton ou de outras neologias retiradas de outro idioma qualquer, que possui regras de pronuncia totalmente distintas do nosso Português.

Como se quer criar uma identidade nacional se nem o idioma é usado de foma unânime. Valorizar as palavras, é valorizar as idéias. Não adianta ter grandes ambições se não podemos nos comunicar. A soberania de nosso idioma é condição “sine qua non” para um país independente. (Olha  a palavrinha estrangeira aí).

Quando tratarmos os “gringos” da mesma forma que nos tratam no exterior, com firme convicção, sem violência ou revanchismo, que eles devem aqui, falar e pronunciar de forma correta a nossa língua, tal como lá. Aí sim, estaremos dando o primeiro passo para o “orgulho nacional”.

Gostaria de receber mais adendos a este assunto e outros nomes maravilhosos para podermos discutir.

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