Nós vivemos em Matrix?

Uma analogia com a nossa realidade!

Apesar das críticas dos filosofos, de que o filme Matrix divesse trazido a pauta de assuntos cotidianos temas próprios de livros e ensaios filosóficos e que os mesmo acham que o debate de tais assuntos sejam próprios de uma cátedra! Contudo é relevante perceber o quanto é inspirador essas novas visões propostas em tal produção.  Cada cena apresentada poderia ser capaz de ser o assunto de um livro inteiro, contudo, gostariamos apenas de analisar a cena de introdução de Neo ao mundo de Matrix.

Nessa cena, o ator Laurence Fishburne (Morpheus) demonstra a keanu Reaves (Neo) o que seria o mundo virtual, como acessá-lo através da conexão neuro-computadorizada e quais são os resultados dessa interação. Os atores iniciam em uma sala branca com uma poltrona velha, as roupas e a sua imagem pessoal está modificada, como o detalhe do cabelo. O programa chamado de Construtor é a ferramenta utilizada para adquirir “ferramentas virtuais” como armas, equipamentos e alterar o modo com que entra em Matrix, como se assumisse um determinado papel. A explicação de Morpheus é de que as pessoas vivem no mundo virtual mas na verdade dormem no mundo real, a sua profundidade de interação e aceitação desse mundo “falso” produz no indivíduo uma necessidade natural de proteger esse mundo e isso os torna complacentes com os “sentinelas”.

Os Sentinelas, programas sensitivos, que fazem o papel de guardas no mundo virtual, eles vigiam todas as portas e possuem todas as chaves. Na verdade são apenas softwares, como os nossos antivirus, mas com aparência de guarda-costas no mundo virtual. Na verdade o que intriga nesse mundo virtual é justamente a escolha da época e da paisagem. A época atual (final do Sec. XX) e o uso do cenário em grandes cidades é bastante interessante. Oportunamente explicados como sendo devido ao momento em que estamos tão encantados com nós mesmos. Uma geração de pessoas encantadas com si mesmas e dentro do cenário ideal, as metrópoles criadas pela própria mente humana.

Não parece a primeira vista, mas Matrix é uma irônia, uma crítica acida e contundente ao nosso estilo de vida. Tão cheios de nós mesmos e tão vazios de qualquer conteúdo, uma geração de narcisistas que não se aguentam de tanto se auto retratarem que até uma palavra elegem para isso “selfie”. Basta observar nos trens do metrô, nos ônibus, nos pontos e nas esquinas. Pessoas adormecidas em usar uma tecnologia que os cativa e adestra, um olhar vazio e mãos ocupadas. Tantas pessoas agrupadas nesses locais contudo sem qualquer interação, como dizia um velho pensador, “com  diversas pessoas, mas uma sala de retratos“.

O que impressiona é a defesa como agimos para com esse sistema, quem já trabalhou em algum serviço de suporte ou assistência técnica e não ouviu frases incríveis como: sem celular me sinto nu ou não posso viver sem ele. Não importa qual seja o aparelho, ele já faz parte da vida e não se consegue se separar o ser humano da máquina.

Qual o resultado disso, estudiosos da Coreia do Sul e da Alemanha apontam para a “demência digital”, “O uso excessivo de smartphones e jogos digitais dificulta o desenvolvimento equilibrado do cérebro”, explicou ao jornal Joong Ang Daily, de Seul, o médico Byun Gi-won, do Centro para o Equilíbrio Cerebral. Da mesma forma o neurocientista alemão Manfred Spitzer publicou em 2012 o livro Digital Dementia que seria um alerta a pedagogos e pais para os perigos da excessiva exposição de crianças ao uso da tecnologia digital e que se deveriam dar alternativas fora desse universo. Isso mostra Luis Dufaur em seu post no site Mídia Sem Máscara que comenta quais os possíveis danos causados para as mentes em formação e como estes são irreversíveis.

Um mundo sem Deus, em que o homem é capaz de mudar seu próprio destino como o “escolhido” Neo, um messias para tecnólogos e internautas, seres capazes de grandes feitos mas incapazes de sairem desse mundo, inertes e adormecidos. A tecnologia fornece tudo, tudo que seja feito por um “copiar” e um “colar”, um mundo de cópias. Como diz no filme: “um mundo onde seres humanos não nascem mais, são cultivados“. Esta é a utopia da tecnologia, sermos totalmente independentes de nossas origens, da natureza e de Deus.

Não existe mais cultura, como alertava Nietzsche, o autor escreve o que vê na vida, o cotidiano e dá ao leitor uma imagem daquilo que o leitor também vê na sua vida e lhe diz “isso é cultura, essa é a língua e isso é a filosofia…”. O leitor se encanta e fica extasiado consigo mesmo e afirma em alto e bom tom, sou um filósofo, sou um linguista, eu entendo o mundo. Não percebe o engodo, a farsa e a fantasia. Olhem a sua volta, tantas palavras e conceitos novos, uma chuva de neologismos. Sofismas tão fáceis de entender, tão acessíveis tanto quanto a internet. Basta um plugar que o mundo inteiro estará a suas disposição, mas que mundo é esse?

A globalização acabou com a cultura nacional, os novos meios de comunicação acabam com a língua e o modernismo com a filosofia. O resultado de tudo isso são valores invertidos e buscas pelo sobrenatural, os velhos valores não são mais aceitos pois são dificeis, eles incomodam e constragem. O status quo não pode ser perturbado, somos os guardas desse sistema, da mesma forma que os softwares sensitivos de Matrix e não podemos aceitar nada que mude isso.

A mística não é mais explicada pela religião, os novos “crentes” idolatram a tecnologia, o modernismo e o comodismo e precisam de novos “deuses”, por isso a busca em terrenos inexplorados. Os velhos mitos são enterrados e as fantasias tomam seu lugar e quando alguém ousa falar o contrário é execrado em praça pública como um reacionário. Os estudos preparam os jovens para o que? São meros analfabetos funcionais, fazem de tudo, mas não entendem nada daquilo que fazem. São cidadãos livres presos em um sistema de respostas prontas. Desdenham o passado e aqueles que ainda o representam ( os velhos) e acreditam, como em Matrix que o mundo é apenas isso, aquilo que a mão do homem criou e não percebem que são as máquinas que comandam esse teatro de marionetes.

Se a coesão da nossa sociedade era mantida outrora pelo imaginário de progresso, ela o é hoje pelo imaginário da catástrofe” Jean Baudrillard

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