Quando a ação transpõe o discurso
Caríssimos, não me enaltece falar sobre certos assuntos, principalmente quando pedem uma reflexão interior, e este assunto pede. Mas devido a opiniões que tenho visto na imprensa, me calar parece no momento uma grave omissão. Os discursos inflamados de ambos os lados não mostram uma solução para o problema, é apenas mais “gasolina para essa fogueira” e o pior, muitos querem ver o “circo pegar fogo”.
Aos que são contra o aborto, gostaria de lhes chamar a atenção para o modo utilizado, aclamações violentas apenas trazem mais violência e as palavras escolhidas como “lutar”, “proibir” e “combater” trazem em seus significados imagens de “violência” que não condizem com a doutrina cristã. A fé clama que sejamos humildes, a reconhecermos em nós mesmos, nossas falhas e nos convida a caminhar com o Cristo em seus ensinamentos.
Nada dizem sobre violência, como nos Estados Unidos, que médicos e enfermeiros que praticavam aborto foram mortos. Quem fez isso não é melhor do que o outro. Um erro não justifica outro. Querer o mal a outro, já é um pecado.
Vou apresentar um caso real, a algum tempo, conheci uma menina, para mim é ainda menina, 14 anos. Atualmente denominam “pré-adolescente”, mas eu sou muito velho para isso. Pois bem, essa menina estava em um hospital, havia dias em que tinha dado a luz e estava em uma encruzilhada. Na sua primeira relação ganhou dois presentes, uma benção e uma maldição. Ficou grávida e contraiu AIDS, que infortúnio!
Estava eu em visita a outra paciente, no outro dia soubera que a menina havia fugido do hospital. Como a criança não tinha o vírus, ela não podia dar de amamentar. Como era de menor não podia ficar com a criança que seria enviada a uma casa de adoção e ela mesma não tinha lar. Seus pais eram usuários de drogas e estavam na “crakolandia”. O ofícial de justiça viria buscá-la para ser internada na “Casa”. A única alternativa que esta menina viu no momento, foi fugir.
Agora pergunto, que alternativa vocês iriam sugerir a essa criança? Posso afirmar que um aborto, aqui e como em outros casos semelhantes, no hospital me disseram ser bastante comum, não soluciona em nada! Agora, as instituições católicas que cuidam de casos assim estão a míngua e somente vemos florescer “ervas-daninhas”. Casos de escândalos em entidades beneficentes aparecem a todo o momento.
Vamos por partes, o primeiro problema aqui é a instituição chamada “família” que está sendo desmantelada pouco a pouco. A segunda questão, criança é criança, quando iremos parar de permitir que jovens percam a infância se tornando adultos cedo demais. Mostram para eles um mundo de “sexualização” e violência que não condiz com essa fase que deveria ser a priori “tão maravilhosa”. Dou de exemplo, um caso que vi hoje, mulher que levou uma criança de 3 anos para assistir a filme de terror. Só apareceu na mídia por causa das testemunhas.
E por isso não concordo com aqueles que são “contra o trabalho infantil”, tiram o menor do serviço e entregam para o traficante. Ensinar responsabilidade, respeito, honra e honestidade nunca é demais. Mas claro que, sempre com bom senso, não permitir os abusos.
Um ponto que sempre bato, a amizade, ensinar ao jovem o valor dos amigos é uma forma de estabelecer quais são as relações humanas saudáveis e quais não são. O jovem vai aprender a distinguir.
Se depois disso, se ocorrer um caso de aborto, será natural e espontâneo e nada poderemos fazer a respeito. Ao retirarmos as situações que causam o aborto, ele passa a não existir.
Claro que, temos sempre um “infeliz”, para não dizer outro nome. Que cria a situação, faz de tudo para alguém chegar no limite e cometer uma “loucura”. Casos de aborto e suicídio são resultados de extrema opressão, pais, amigos, clérigos e hoje, até “internet” são responsáveis por opressão. O aumento de casos de “bullying” preocupa no mundo todo.
Agora paro e reflito. O caminho é este, um jovem criado com valores e responsabilidade não terá tão facilmente, pois ainda existe o problema dos grupos, chances de cair nessas armadilhas, sexo, drogas e violência. Mas o que eu faço e o que posso fazer para dirimir ainda mais essa situação. Vou começar em casa, cuidar dos meus e tentar ajudar a outros, cada vez mais. Não lhes peço resposta, apenas que reflitam sobre isso!
Dòmine, non sum dignus, ut intres Sub tectum meum, sed tantum dic Verbo, et sanabitur anima meã.