Problemas novos, soluções velhas
Ao assistir uma reportagem sobre vagões especiais em trens, exclusivos para mulheres, me lembrei de minha velha escola primária. Quando ingressei na mesma, o sistema já era misto, meninos e meninas estudavam juntos, mas na hora do recreio, desculpem pelo termo arcaico, era assim naquela época. Os meninos ficavam de um lado e as meninas do outro. Estava eu com 6 a 7 anos de idade, mas como os outros garotos que não explicavam o porque, insistíamos em uma brincadeira de “atravessar a fronteira” e ir ao lado das meninas. Um senhor gordo e muito estranho fazia a “guarda” dessa fronteira imaginária e sua função era nos perseguir para nos por no lugar certo.
Situação essa que se prosseguia pelo tempo todo do horário do recreio e a nossa pausa era apenas para comer o lanche, o que não parecia ser tão interessante quanto chegar do outro lado.
Conforme disse a repórter, a medida teria sido tomada por causa dos homens que “molestam” as mulheres. Por que não falar diretamente, assediar ou que se aproveitam para encochar ou apalpar! Maldito politicamente correto, as soluções não se fazem emergir enquanto os problemas não são encarados de frente.
Ou seja, hoje, as mulheres que procuravam tanto e por tanto tempo, andar lado a lado com os homens, retornam com medidas antigas para resolver problemas causados por essa igualdade. A minha pergunta agora seria, estavam errados no passado, aqueles que determinaram um lugar para cada um?
Calma, não sou machista, o que hoje dizem ser “sexista”, aquele que defende o poder do seu sexo sobre o outro. O que eu afirmo é que e apenas que, houve bons motivos para se fazer a separação, o erro ocorreu depois, quando os homens usaram essa divisão para “escravizar” a mulher.
No período primitivo, enquanto os homens eram responsáveis pela coleta de alimentos, caça, pesca e coleta de frutas, as mulheres ficavam no comando da tribo e determinavam as regras dessa convivência. Quando o ser humano começou a plantar e os homens não precisavam mais se ausentar tanto, foram-se criados sistemas diferentes de comando, o homem de chefe militar, para a defesa da tribo se tornaria o chefe majoritário.
Olhe as suas cabras, pois o meu bode está solto
Este ditado mostra alguns aspectos dessa relação que as necessidades formaram, o homem que saia para caçar e a mulher que ficava na tribo montavam, mesmo que pitorescamente, alguns clichés na relação homem e mulher. O homem era livre e corria riscos e a mulher presa e segura, o homem determinava com sua aproximação, quando teriam relações. O que não seria ainda uma regra, mas em modo geral, davam uma certa organização na tribo.
Infelizmente foram formadas os estigmas do homem, auto-suficiente, não chora e apetite “sexual” voraz. Eles foram primeiro observados assim e depois educados para manterem seus estigmas. Fato tão enraizado no ser humano que quando um homem se mostra diferente é muito “mal” visto tanto por homens quanto por mulheres.
O papel masculino chegou a aumentar muito, em alguns casos, até mesmo por um posicionamento das mulheres que preferiam um papel de segundo plano, confortável e protegido a uma relação perturbada com quem a sustentava, nesse caso me refiro a comida. A própria mulher repassava isso aos filhos homens, dando super proteção aos futuros “machões” acostumados a serem servidos o tempo todo e que procuram isso nas futuras companheiras.
Como atingir a “igualdade”
Um mútuo auxílio sempre parece ser a melhor solução, mas como em uma corrida, sempre alguém começa a se mover um pouco mais rápido, e isso se torna um “equilíbrio” dinâmico e cansativo. A relação homem e mulher tem de ser sempre ajustada e adaptada as novas situações. A própria mulher costuma “sabotar” a si mesma na sociedade, ela é vítima de sua própria visão de si mesma e das outras mulheres. Ela agem sempre de modo “competitivo” e as outros são encaradas como concorrentes. Quando elas tolam a subida de outra mulher, diminuem as próprias chances de subir tanto social como profissionalmente.
As medidas, como um vagão só para as mulheres não deixam de ter suas razões, mas criam constrangimentos, como no caso de mulheres acompanhas de homens, como paí, irmão, namorado ou marido que teriam de ir em outro vagão, ou podem criar novas medidas para outros grupos, como um já cogitado vagão para homossexuais.
Em resumo, as mulheres lutam por novas posições na sociedade, direitos e reconhecimento, mas acabam encontrando novas situações, inusitadas, que para solucionar, nem que seja provisoriamente, recorrem a soluções antigas.